quarta-feira, 4 de maio de 2016

Sonhos - Os Meninos da Planície

    Sonho 1: Gritos e gargalhadas misturavam-se, um grupo de crianças tomava banho num riacho.
Um dos meninos, o mais agitado, corria na margem. E pulou no rio jorrando água para todos os lados.
Em pé com a água batendo no peito começou a bater na superfície do riacho com as mãos abertas. Atirando água em uma menina que comia uma fruta na beira do rio, com cabelo liso e longo, nariz curto e lábios grossos. Num dos braços havia um cicatriz em forma de trevo. Usava um colar de sementes.
O menino continuava batendo no rio
- Toma Nia!
A menina o acertou com a fruta, gritando com raiva
- Para, Aur!
O menino mergulhou na água para arrumar o cabelo. Na testa tinha uma fita vermelha com dentes esbranquiçados. Descava-se um, grande e retorcido, de um porco-do-mato

Sonho 2: Os homens abandonaram a aldeia muito cedo para caçar. Mais tarde, as mulheres e as crianças começaram a caminhada. Iam até as grutas da grande planície.
O grupo caminhou rapidamente, durante toda manhã, até a entrada de uma gruta.
Atrás de uma grande pedra, na entrada, os homens deixaram um veado e um caititu que haviam caçado. Nia e mais duas meninas foram apanhar água.
Aur recolhia folhas e galhos secos do chão da gruta e tirou um embornal de madeira plana. Na superfície da madeira haviam pequenas depressões escuras.
Entre os galhos que apanhara no chão, o menino escolheu o mais reto, e em uma pedra raspou uma de suas pontas até ficar inigualada. Num dos buracos da madeira, colocou a ponta que raspara e começou a esfregar as mãos girando sem parar. Poucou depois começou a sair uma pequena fumaça branca, e um anel de brasa apareceu em volta da ponta do galho. 
Quando conseguiu fazer uma pequena chama de fogo, retirou o pedaço de madeira, cuspiu nele e apagou a chama.

Sonho 5: O entardacer era de cobre. Na aldeia formaram-se três grupos: o das crianças, num estranho silêncio; o dos homens, que conversavam de cócoras em voz baixa; e o das mulheres que se aqueciam em volta do fogo.
Aur, apontando para o disco solar, enorme, explicava aos meninos oque o velho lhe contara: o Sol, depois de caminhar o dia todo, ia descansar muito longe, pousando num território distante. Tão longe, que ninguém conseguia alcançá-lo. Deitava para descansar e causava um grande incêndio que avermelhava o céu. 
- Tomara que, o Sol, um dia, não resolva dormir na planície do rio - comentou Nia
 No grupo das mulheres, uma delas permanecia em pé, imóvel, as duas mãos pousadas sobre o ventre dilatado. De repente, começou a caminhar na direção da mata. A mulher mais idosa a seguiu. Os três grupos ficaram em silêncio, olhando para a mata que as mulheres haviam entrado.
As duas pararm em uma pequena clareira. A mais velha arrastou as folhas do chão, formando um tapete.
Lentamente, a mulher de ventre dilatado acocorou-se sobre o tapete e apoiou as mãos no chão. Só se percebia a respiração da mulher agachada almentando e o escoar a da água do rio próximo. Ouviu-se então, um barrulho de água derramada sobre o tapete de folhas. A mulher ajoelhou-se e, enquanto apanhava algo no chão, veio o primeiro choro, forte e zangado de um recém-nascido. 


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