quarta-feira, 4 de maio de 2016

Biografia - Cástor Cartelle

Cástor Cartelle nasceu na Espanha e chegou ao Brasil em 1957. Além de ter se tornado cidadão brasileiro foi, também, nomeado Cidadão Honorário de Minas Gerais.
Licenciado em Letras Clássicas, Filosofia e Ciência Naturais, mestre em Geociências e doutor em Morfologia. Foi professor titular da UFMG e, na atualidade, é professor da PUC de Minas Gerais e curador da Coleção de Paleontologia do Museu de Ciências Naturais desta universidade.
Tem  desenvolvido, ao longo dos anos, trabalhos em defesa do meio ambiente, como membro do Conselho Estadual de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, do Conselho da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte e da Fundação Biodiversitas, da qual é, atualmente presidente.

Sonhos - Os Meninos da Planície

    Sonho 1: Gritos e gargalhadas misturavam-se, um grupo de crianças tomava banho num riacho.
Um dos meninos, o mais agitado, corria na margem. E pulou no rio jorrando água para todos os lados.
Em pé com a água batendo no peito começou a bater na superfície do riacho com as mãos abertas. Atirando água em uma menina que comia uma fruta na beira do rio, com cabelo liso e longo, nariz curto e lábios grossos. Num dos braços havia um cicatriz em forma de trevo. Usava um colar de sementes.
O menino continuava batendo no rio
- Toma Nia!
A menina o acertou com a fruta, gritando com raiva
- Para, Aur!
O menino mergulhou na água para arrumar o cabelo. Na testa tinha uma fita vermelha com dentes esbranquiçados. Descava-se um, grande e retorcido, de um porco-do-mato

Sonho 2: Os homens abandonaram a aldeia muito cedo para caçar. Mais tarde, as mulheres e as crianças começaram a caminhada. Iam até as grutas da grande planície.
O grupo caminhou rapidamente, durante toda manhã, até a entrada de uma gruta.
Atrás de uma grande pedra, na entrada, os homens deixaram um veado e um caititu que haviam caçado. Nia e mais duas meninas foram apanhar água.
Aur recolhia folhas e galhos secos do chão da gruta e tirou um embornal de madeira plana. Na superfície da madeira haviam pequenas depressões escuras.
Entre os galhos que apanhara no chão, o menino escolheu o mais reto, e em uma pedra raspou uma de suas pontas até ficar inigualada. Num dos buracos da madeira, colocou a ponta que raspara e começou a esfregar as mãos girando sem parar. Poucou depois começou a sair uma pequena fumaça branca, e um anel de brasa apareceu em volta da ponta do galho. 
Quando conseguiu fazer uma pequena chama de fogo, retirou o pedaço de madeira, cuspiu nele e apagou a chama.

Sonho 5: O entardacer era de cobre. Na aldeia formaram-se três grupos: o das crianças, num estranho silêncio; o dos homens, que conversavam de cócoras em voz baixa; e o das mulheres que se aqueciam em volta do fogo.
Aur, apontando para o disco solar, enorme, explicava aos meninos oque o velho lhe contara: o Sol, depois de caminhar o dia todo, ia descansar muito longe, pousando num território distante. Tão longe, que ninguém conseguia alcançá-lo. Deitava para descansar e causava um grande incêndio que avermelhava o céu. 
- Tomara que, o Sol, um dia, não resolva dormir na planície do rio - comentou Nia
 No grupo das mulheres, uma delas permanecia em pé, imóvel, as duas mãos pousadas sobre o ventre dilatado. De repente, começou a caminhar na direção da mata. A mulher mais idosa a seguiu. Os três grupos ficaram em silêncio, olhando para a mata que as mulheres haviam entrado.
As duas pararm em uma pequena clareira. A mais velha arrastou as folhas do chão, formando um tapete.
Lentamente, a mulher de ventre dilatado acocorou-se sobre o tapete e apoiou as mãos no chão. Só se percebia a respiração da mulher agachada almentando e o escoar a da água do rio próximo. Ouviu-se então, um barrulho de água derramada sobre o tapete de folhas. A mulher ajoelhou-se e, enquanto apanhava algo no chão, veio o primeiro choro, forte e zangado de um recém-nascido.